Mirassol vence o Vasco no Rio e estreia na Libertadores 2026

Na noite de 2 de dezembro de 2025, o Mirassol Futebol Clube escreveu sua página mais gloriosa na história. Derrotando o Club de Regatas Vasco da Gama por 2 a 0 no Estádio São Januário, no Rio de Janeiro, o time do interior de São Paulo garantiu, pela primeira vez, uma vaga direta na fase de grupos da Copa Libertadores 2026. Os gols, marcados por Renato Marques e Carlos Eduardo Ferreira no segundo tempo, não só selaram o resultado, mas também encerraram uma jornada de 100 anos — desde a fundação do clube em 1925 — sem nenhuma participação continental. O treinador Rafael Guanaes Pinto, que comanda o time desde janeiro de 2024, caiu de joelhos no gramado ao apito final, abraçado por jogadores que, até pouco tempo atrás, jogavam na Série B. E agora? Eles vão encarar os grandes da América.

Um sonho que veio do interior

O Mirassol, clube de 200 mil habitantes no norte de São Paulo, não era nem lembrado no cenário nacional até 2023, quando subiu da Série B. Em 2024, sua estreia na elite terminou com 11º lugar. Em 2025, mudou tudo. Com 66 pontos (18 vitórias, 12 empates, 7 derrotas), o time superou até gigantes como Flamengo e Palmeiras em rendimento consistente — e terminou em 6º lugar, o último posto que garante classificação direta para a Libertadores. O Vasco, por outro lado, terminou em 13º, com apenas 45 pontos, e ficou fora de qualquer competição continental pela segunda temporada seguida. Para o interior, isso é revolução. Só Ituano e Guarani haviam conseguido isso antes. Agora, Mirassol entra na elite.

Os heróis da noite

Renato Marques, de 28 anos, abriu o placar aos 49 minutos do segundo tempo. Recebeu passe de Jair, desviou com o peito e encaixou no canto direito do goleiro. Carlos Eduardo, o veterano de 31 anos, fechou o jogo aos 90+6’. Um lançamento longo, ele cortou a marcação, girou e bateu forte. O estádio, que vibrava com os gritos do Vasco, ficou em silêncio. No gramado, os jogadores do Mirassol correram em direção ao técnico Rafael Guanaes, que, com o rosto molhado, apenas apontou para o céu. O goleiro Alex Muralha, de 23 anos, fez três defesas decisivas — inclusive um contra-ataque que quase virou gol no fim. A arbitragem de Raphael Claus, de São Paulo, foi impecável. Nenhum pênalti, nenhuma polêmica. Apenas futebol limpo, intenso, histórico.

Um golpe financeiro para o clube

A classificação não é só emocional — é econômica. A CONMEBOL garante aos clubes que entram na fase de grupos da Libertadores cerca de 3 milhões de dólares em participação. Mas o Mirassol tem um detalhe a mais: seu patrocínio principal, a Betano, inclui uma cláusula de 500 mil dólares por classificação. Isso significa um ganho de quase 3,5 milhões de dólares só por entrar na competição — um valor que supera o orçamento anual do clube até 2023. O presidente Ricardo Mello já anunciou que parte desse dinheiro será investido na base, na estrutura do estádio e na contratação de um novo técnico para a Libertadores. Ainda não há nome, mas o nome de Abel Ferreira já circula nos bastidores.

Por que isso importa para o Brasil?

O futebol brasileiro vive uma concentração brutal de poder: São Paulo, Rio, Minas Gerais e Porto Alegre dominam o cenário. Clube do interior que chega à Libertadores? É raro. Muito raro. E isso muda o jogo. Mostra que é possível construir um time competitivo com gestão inteligente, infraestrutura modesta e identidade forte. O Mirassol não tem um estádio moderno, nem um elenco caro. Tem disciplina, coesão e um técnico que entende de futebol, não de marketing. Essa vitória é um sinal: o futebol não pertence só aos grandes. E o Vasco? O time carioca, que já foi campeão continental, agora enfrenta uma crise de identidade. Com o presidente Jorge Salles e o técnico Ramón Díaz sob pressão, o clube vive seu pior momento em décadas. Sem Libertadores, sem Copa do Brasil, sem visibilidade — o futuro é incerto.

O que vem a seguir?

A Copa Libertadores 2026 começa em fevereiro, mas os prazos já correm. O Mirassol precisa registrar 30 jogadores até 31 de dezembro de 2025, conforme exigência da CONMEBOL. O elenco atual tem apenas 22 jogadores. Negociações já começaram: o clube busca um volante experiente, um zagueiro de alto nível e um atacante com passagem internacional. Ainda não há confirmação oficial, mas o nome de Leandro Damião, ex-Atlético-MG, já é citado como possível reforço. O sorteio das chaves ocorre em janeiro, e o Mirassol pode enfrentar times como River Plate, Flamengo ou até o Boca Juniors. O sonho virou realidade — agora, o desafio é sobreviver.

Um clube, um século, uma conquista

Antes de 2025, o Mirassol nunca havia jogado fora do Brasil. Suas maiores conquistas eram títulos estaduais da Série A2 e participações na Copa do Brasil. Nada mais. Mas agora? O clube tem um novo nome na história: o primeiro time do interior de São Paulo, desde 2001, a chegar à fase de grupos da Libertadores. E fez isso derrotando o Vasco, um dos maiores clubes do país, no seu próprio templo. O Estádio São Januário, inaugurado em 1927, viu o fim de uma era — e o começo de outra. O Mirassol, que nasceu em 1925, não era esperado. Mas, no fim, foi ele quem levantou a taça da classificação.